Livro que reúne cartas inéditas de Santa Dulce dos Pobres será lançado no Rio de Janeiro nesta terça-feira (26)
“Seu Abelardo, Paz e bem! Isto é um assalto. Vou levar 1 furadeira. Irmã Dulce”. O inusitado e bem-humorado bilhete com data de 19 de maio de 1989, dirigido a um comerciante em Salvador que sempre socorria Irmã Dulce em suas necessidades junto aos pobres e doentes, é parte da coleção de 59 correspondências – quase todas inéditas – publicadas no livro Cartas de Santa Dulce - a face humana em todos nós (192 páginas). Com texto de contracapa assinado pela atriz Fernanda Montenegro e reunindo manuscritos da Mãe dos Pobres escritos durante os anos de 1930 a 1980, a obra convida o público a um inédito e profundo mergulho na memória da religiosa baiana que se tornou a primeira santa do Brasil. Seja no amor pelos animais; na cumplicidade afetuosa com a irmã, Dulcinha; na saudade profunda de sua sobrinha, Maria Rita – hoje, superintendente das Obras Sociais Irmã Dulce (OSID); ou na simplicidade e questionamentos de uma jovem que sonhava com a vida religiosa, as cartas de Santa Dulce revelam toda a humanidade, incluindo momentos de angústia, fé, dor e alegria, daquela a quem o povo baiano comparou a um “anjo”.
Com 100% de sua comercialização revertida para a obra social fundada por Irmã Dulce, o livro será lançado no Rio de Janeiro amanhã (26), às 19h, no Instituto Superior de Educação Pró-Saber (Largo dos Leões, 70, Humaitá). Na ocasião, Maria Rita, que integra o conselho editorial da publicação, irá autografar os exemplares. Durante o evento, o livro estará disponível por um valor promocional de R$ 75.
A noite de lançamento de Cartas de Santa Dulce - a face humana em todos nós também contará com uma mesa-redonda, formada por Ana Maria Lopes Pontes, irmã de Santa Dulce; pela missionária Irmã Maiara Santos, religiosa do Instituto Filhas de Maria Serva dos Pobres (fundado por Santa Dulce), e por Dom Roberto Lopes, Delegado Arquiepiscopal para as Causas dos Santos da Arquidiocese do Rio de Janeiro. A mesa-redonda será mediada pela jornalista Luciana Savaget, integrante do conselho editorial do livro. O evento será marcado ainda pela apresentação dos músicos da Estação Primeira de Mangueira, que farão uma homenagem a Santa Dulce dos Pobres.
Testemunhos de amor e caridade - Cartas de Santa Dulce: a face humana em todos nós foi organizada por um conselho editorial que, ao longo de dois anos, se dedicou à pesquisa e seleção dos manuscritos. A equipe também garimpou, junto ao acervo do Memorial Irmã Dulce (MID), postais e fotos da intimidade de Santa Dulce, entre outros documentos até então inéditos. O diversificado grupo contou com a participação, além da superintendente da OSID e da jornalista Luciana Savaget, dos museólogos das Obras Sociais, Osvaldo Gouveia, Carla Silva e Marcela Avendaño; da missionária Irmã Maiara Santos; do gestor do Complexo Santuário Santa Dulce dos Pobres, Márcio Didier; e do designer Gilberto Strunck.
Em cada carta redigida em letras miúdas e caligrafia harmoniosa, o leitor, no papel de “destinatário”, se encontra com a remetente e, página a página, vai reunindo os recortes de textos que testemunham a vida da mulher que viveu a caridade através de grandes gestos e das pequenas atitudes do dia a dia. Em um desses atos simples está um bilhete de duas linhas – “Estes 2 rapazes pedem um transporte grátis até o Rio” –, escrito em 21 de julho de 1967, que ajudou dois jovens que passavam por dificuldades em Salvador a voltarem para casa. Um dos moços, na época com 19 anos, era o escritor Paulo Coelho, hoje um benfeitor da OSID. “O leitor vai compartilhar as angústias, as alegrias e a fé de Santa Dulce dos Pobres. É como se estivéssemos ao lado dela, no instante em que escrevia cada palavra. Neste livro, ela é a mãe das milhares de crianças acolhidas, é a religiosa, é a irmã de Dulcinha, a tia de Maria Rita. É um ser plural”, pontua Osvaldo Gouveia, museólogo da Escola de Dulcismo.
Já em outra carta, o leitor irá se deparar com uma fã incondicional do Rei, reclamando: “Apanharam em meu quarto a fita de Roberto Carlos que você me deu. Será que arranja outra?” (carta para Maria Rita, em 9 de outubro de 1979). “Foi uma experiência que ativou uma série de memórias da minha infância, adolescência e da fase na qual pude participar mais de perto de suas Obras”, diz a sobrinha da Santa sobre o projeto editorial. “Relendo as cartas, pude recordar a figura dela, tão doce... É possível ouvir sua voz escrevendo as cartinhas. Boas lembranças, algumas risadas pelos acontecimentos que são narrados, e lágrimas também. Foi uma experiência muito boa de viver e reviver”.
A jornalista Luciana Savaget conta que a imersão nos manuscritos de Dulce foi algo extremamente emocionante, em especial, quando foi descobrindo as particularidades da pessoa por trás da religiosa: “Desse universo das cartas emergem histórias pitorescas e o lado mais humano de Santa Dulce”. Para Gilberto Strunck, criador do design sensível e refinado do livro, “este é um projeto especial desde a sua gestação, fruto do trabalho de um grupo de pessoas que viveu o processo intensamente e com toda a sensibilidade”. Buscando criar uma atmosfera de “conexão do leitor com o lado mais humano da Santa”, ele optou por um design mais leve e arejado, utilizando objetos que faziam parte do cotidiano de Irmã Dulce, como rosários, óculos e fotografias”.
Santa Dulce dos Pobres – Em 26 de maio de 1914 nascia, em Salvador, Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes. Aos 13 anos de idade, já atendia doentes no portão de sua casa, no bairro de Nazaré. Em 1933, a jovem ingressa na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, em São Cristóvão (Sergipe). No mesmo ano, no dia 13 de agosto, recebe o hábito e adota, em homenagem a sua mãe, o nome Irmã Dulce.
Em 1949, a religiosa ocupa, após autorização da sua superiora, um galinheiro localizado ao lado do convento, com os primeiros 70 doentes recolhidos das ruas de Salvador. A iniciativa deu origem às Obras Sociais Irmã Dulce, instituição que abriga hoje um dos maiores complexos de saúde do Brasil com atendimento 100% gratuito, acolhendo mais de 3 milhões de pessoas por ano na Bahia. Irmã Dulce morreu no dia 13 de março de 1992, aos 77 anos, no Convento Santo Antônio, na capital baiana. A freira, que dedicou sua vida aos mais necessitados, foi canonizada no dia 13 de outubro de 2019, passando a ser chamada Santa Dulce dos Pobres, e tendo o dia 13 de agosto como sua Data Litúrgica.