Jovem é destaque no judô baiano e busca incentivo para se dedicar ao esporte
Em uma pequena sala nas Obras Sociais Irmã Dulce (OSID), cheia de papéis prontos para serem organizados e diversos computadores, quase ninguém imagina que ali trabalha uma grande atleta. Esportista há oito anos, Letícia Nepomuceno, 19, é jovem aprendiz na instituição da primeira santa brasileira e divide a sua rotina com a paixão pelo judô, arte marcial pela qual se dedica diariamente. Com mais de 50 campeonatos no currículo e o sonho de um dia representar o Brasil nas Olimpíadas, a judoca baiana convive também com outros desafios para seguir na carreira, como a busca por apoio financeiro para arcar com os custos das competições.
Vice-campeã brasileira regional de judô em 2018, e com inúmeras medalhas conquistadas em eventos regionais e nacionais, Letícia explica que nunca teve patrocínios para competir, contando sempre com o apoio dos familiares e do próprio trabalho como jovem aprendiz para arcar com as despesas. “Junto com a minha família sempre realizo rifas e campanhas pela internet, além de destinar boa parte do meu salário para poder custear as viagens, hospedagens, uniforme, alimentação e as inscrições dos campeonatos, que custam caro”, revela a atleta, que está treinando para o Campeonato Brasileiro de Judô deste ano, categoria Sub-21, marcado para o próximo dia 10 de agosto, em Lauro de Freitas (BA).
Criada em São Caetano, bairro da periferia de Salvador, a jovem aprendeu a lutar judô aos 11 anos de idade. Assim como outros talentos brasileiros, iniciou a jornada nos esportes por meio de projetos sociais, como o Campeões do Bem, que acolhe jovens da localidade em turmas de diversas modalidades esportivas. Logo no início percebeu a aptidão para a arte marcial, começando a competir um ano depois, por intermédio do professor Marcelo Almeida, que a inscreveu na Federação Baiana de Judô (FBJ), e dos pais Elisângela e Djalma, seus principais torcedores.
Os projetos sociais costumam ser a porta de entrada para muitas crianças e adolescentes, levando o esporte às comunidades periféricas como uma ferramenta de transformação social. Dois exemplos conhecidos são o boxeador soteropolitano Robson Conceição, que também iniciou a carreira no bairro São Caetano, e a judoca Rafaela Silva. “O judô mudou a minha vida e a minha forma de ver as pessoas, me ensinando sobre respeito, humildade e principalmente disciplina”, afirma Letícia.
Desafios – Todos os dias, Nepomuceno – como destaca a identificação do kimono utilizado nas competições – sai de casa às 6h da manhã para iniciar a rotina diária que envolve o trabalho como jovem aprendiz, o curso de graduação em Enfermagem e os treinos na Associação Nintai, projeto social do qual faz parte atualmente. Questionada como conduz tantas atividades, ela responde que aplica a disciplina que aprendeu dentro do próprio esporte. “É muito difícil conciliar, mas quando nós temos amor por uma coisa e acreditamos naquilo que fazemos, nenhuma dificuldade é capaz de fazer com que a gente pare”, explica.
Junto ao desejo de continuar crescendo no Judô e um dia disputar as Olimpíadas, Letícia afirma que seu maior sonho é seguir contribuindo com a comunidade onde nasceu: “eu comecei a minha carreira em um projeto social e até hoje consigo me dedicar ao judô por causa disso, por isso sei a diferença que essas oportunidades fazem na vida de jovens que vieram de onde eu vim. Todo o aprendizado que venho adquirindo nesses anos, quero poder passar para as crianças e, quem sabe um dia, poder fundar o meu próprio projeto”.