Icone coração Doações Icone coração Ouvidoria

“Essa é a última porta, por isso eu não posso fechá-la”, declarou Santa Dulce dos Pobres há exatos 50 anos

09 de September de 2024

Há exatos 50 anos o Jornal da Bahia destacava nas páginas do periódico as palavras de Santa Dulce dos Pobres sobre a missão perpetuada até os dias atuais pelas Obras Sociais Irmã Dulce (OSID): manter as portas do complexo hospitalar abertas a todas as pessoas, sem distinção. Mesmo em meio a uma crise financeira que ameaçava o Hospital Santo Antônio em 1974, a declaração reiterava a determinação da religiosa baiana em seguir prestando assistência àqueles que necessitavam, tendo o amor ao próximo como o principal impulsionador.

Intitulada “’Deficit’ de Irmã Dulce é grande. Tanto quanto o amor”, a reportagem apresentava as dificuldades da organização de saúde, que enfrentava um déficit mensal de 59 mil cruzeiros, cerca de 55% do orçamento das Obras Sociais, à época mantidas por contribuições de comerciantes e empresários, além das doações arrecadadas pelo Anjo Bom em sua caminhada diária pelas ruas. Fundado em 1959, o complexo já somava 30 mil pessoas atendidas até então e possuía 205 leitos ocupados por doentes sem condições econômicas e que não tinham acesso a serviços de previdência social.

“O que é que se pode fazer? Eu sei que se não são os auxiliares eles não têm mais a quem recorrer. Essa porta (mostra orgulhosa a porta do convento) estará sempre aberta aos necessitados. Quando nenhum hospital quiser aceitar mais algum paciente, nós aceitaremos. Essa é a última porta, por isso eu não posso fechá-la”, afirmou à reportagem, publicada no dia 7 de setembro de 1974, ano em que Santa Dulce dos Pobres também completara 60 anos de idade. O arquivo digitalizado do antigo Jornal da Bahia foi um dos documentos de pesquisa doados pelo escritor e jornalista Valber Carvalho à instituição do Anjo Bom em agosto deste ano e que passam a compor o novo acervo do Memorial Santa Dulce dos Pobres.

Autor de dois volumes biográficos sobre a trajetória da freira baiana, Além Da Fé - A Vida De Irmã Dulce (2020) e A Última Porta – A Vida de Irmã Dulce - Parte 2 (2023), Valber explica que essa foi a primeira vez que a Mãe dos Pobres declarou na imprensa a preocupação com a continuidade das Obras conduzidas por ela naquele momento, em um contexto de aprofundamento das desigualdades sociais, crises na saúde pública e efeitos da intensa pobreza em Salvador (BA) - problemas que atingiam desde as crianças até os mais idosos. Apesar dos obstáculos, encerrar as atividades ou limitar o acesso aos serviços da instituição nunca foram consideradas como opções.

“Assim como uma vela que, à medida que queimava, não parava de diminuir de tamanho, Irmã Dulce, que tinha a sua luz e se doava tanto, tinha a preocupação de um dia faltar com as Obras. Esse foi um período difícil, em que ela teve que se desdobrar ainda mais para conquistar a adesão de outros setores da sociedade civil, mas conseguiu manter a porta permanentemente aberta e ser uma ponte social que unia os mais necessitados àqueles que podiam ajudar de alguma maneira”, afirma.
 

“Essa é a última porta, por isso eu não posso fechá-la”, declarou Santa Dulce dos Pobres há exatos 50 anos