Vaticano reconhece segundo milagre atribuído à Irmã Dulce
O Papa Francisco promulgou o decreto que reconhece o segundo milagre atribuído à intercessão de Irmã Dulce, cumprindo-se assim a última etapa do processo de Canonização da beata baiana. A freira, conhecida como o Anjo Bom da Bahia, se tornará a primeira santa nascida no Brasil e sua canonização será a terceira mais rápida da história (27 anos após seu falecimento), atrás apenas da santificação do Papa João Paulo II (9 anos após sua morte) e de Madre Teresa de Calcutá (19 anos após o falecimento da religiosa). O segundo milagre validado pelo Vaticano passou por três etapas de avaliação: uma reunião com peritos médicos (que deram o aval científico), com teólogos, e, finalmente, a aprovação final do colégio cardinalício, tendo sua autenticidade reconhecida de forma unânime em todos os estágios. Uma graça só é considerada milagre após atender a quatro pontos básicos: a instantaneidade, que assegura que a graça foi alcançada logo após o apelo; a perfeição, que garante o atendimento completo do pedido; a durabilidade e permanência do benefício e seu caráter preternatural (não explicado pela ciência). A notícia da canonização chega em um mês também especial na história da entidade erguida pela Mãe dos Pobres, já que as Obras Sociais Irmã Dulce (OSID) irão celebrar, no próximo dia 26 de maio, 60 anos de fundação.
Durante coletiva para a imprensa, realizada nesta terça-feira (14), na sede da OSID, o arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger, disse que no próximo mês de julho deve acontecer o consistório, evento no qual o Papa anuncia o reconhecimento de novos santos, ocasião em que deve ser divulgada a data da canonização de Irmã Dulce, que passará a ser chamada Santa Dulce dos Pobres. “Temos esperança de que a cerimônia seja realizada ainda este ano, no segundo semestre. Irmã Dulce agora é santa soteropolitana, baiana, brasileira e do mundo todo. Uma Irmã universal. A partir daqui um facho de luz é projetado sobre ela, sobre sua vida, sua obra, para mostrar o que o amor é capaz de fazer. Ela morreu, mas, no entanto, o bem que ela fez, a dedicação aos pobres, o ver Jesus nos necessitados continua a beneficiar milhares de pessoas. Ela nos deixou uma herança viva”, declarou Dom Murilo. “Santa para nós ela sempre foi. Santa pelos milagres que somos testemunhas no dia a dia, na sua obra, pelas dificuldades que vivemos e por sempre aparecer uma solução. Irmã Dulce está presente entre nós”, comentou emocionada a superintendente das Obras Sociais, Maria Rita Pontes. O segundo milagre atribuído à Mãe dos Pobres reconhecido pelo Vaticano é a cura da cegueira de um homem. “Não tinha explicação. Era um paciente que estava cego e que de um dia para o outro voltou a enxergar, sem explicação”, afirmou Sandro Barral, perito médico que integrou a comissão de análise do milagre.
As etapas do processo
A causa de Canonização de Irmã Dulce foi iniciada em janeiro de 2000. Em abril de 2009, o Papa Bento XVI reconheceu as virtudes heroicas da Serva de Deus Dulce Lopes Pontes, autorizando oficialmente a concessão do título de Venerável à religiosa. O título é o reconhecimento de que Irmã Dulce viveu, em grau heroico, as virtudes cristãs da fé, esperança e caridade. Em outubro de 2010, a Congregação para a Causa dos Santos, através de voto favorável e unânime de seu colégio de cardeais e bispos, atestou a autenticidade do primeiro milagre atribuído à Irmã Dulce, cumprindo, dessa forma, a última etapa do processo de beatificação. Já no dia 10 de dezembro de 2010, o Papa Bento XVI autorizou a promulgação do decreto do primeiro milagre. Irmã Dulce foi então beatificada no dia 22 de maio de 2011, em cerimônia realizada no Parque de Exposições de Salvador, reunindo mais de 70 mil pessoas. Na ocasião, a freira baiana foi coroada como a primeira beata nascida na Bahia e passou a se chamar Bem-Aventurada Dulce dos Pobres, tendo o dia 13 de agosto como data oficial de celebração de sua festa litúrgica. Faltava apenas a validação de um segundo milagre para que a religiosa fosse então canonizada.
O Anjo Bom
Em 26 de maio de 1914 nasce, na cidade de Salvador, Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes. Segunda filha do dentista Augusto Lopes Pontes e de Dulce Maria de Souza Brito Lopes Pontes, a menina que gostava de soltar pipa e jogar futebol manifesta o interesse pela vida religiosa no início da adolescência, quando, aos 13 anos de idade, já atendia a doentes no portão de casa, no bairro de Nazaré. É nessa época que sua casa fica conhecida como A Portaria de São Francisco’, tal a aglomeração de desassistidos. Em 1933, a jovem ingressa na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, no Convento de Nossa Senhora do Carmo, em São Cristóvão (Sergipe). No mesmo ano, recebe o hábito e adota, em homenagem à sua mãe, o nome de Irmã Dulce.
A religiosa inicia um trabalho assistencial nas comunidades carentes em 1935, sobretudo nos Alagados, conjunto de palafitas que se consolidara na parte interna do bairro de Itapagipe. Nessa mesma época, começa a atender também aos operários – que eram numerosos naquele bairro – criando um posto médico e fundando, em 1936, a União Operária São Francisco – primeira organização operária católica do estado, embrião do Círculo Operário da Bahia.
Em 1939, Irmã Dulce invade cinco casas na Ilha dos Ratos, para abrigar doentes que recolhia nas ruas de Salvador. Expulsa do lugar, ela peregrina durante uma década, levando os seus doentes por vários locais da cidade. Por fim, em 1949, Irmã Dulce ocupa um galinheiro ao lado do Convento Santo Antônio, após autorização da sua superiora, com os primeiros 70 doentes. A iniciativa deu origem à tradição propagada há décadas pelo povo baiano de que a freira construiu o maior hospital da Bahia a partir de um simples galinheiro. Já em 1959, é instalada oficialmente a Associação Obras Sociais Irmã Dulce.
Irmã Dulce morreu no dia 13 de março de 1992, aos 77 anos, no Convento Santo Antônio, ao lado de seus doentes, por quem tanto lutou. Túmulo definitivo do “Anjo Bom do Brasil”, a Capela das Relíquias – local para onde seus restos mortais foram transferidos – está aberta à visitação durante todos os dias, das 7h às 18h. A capela fica no Santuário de Irmã Dulce, na Avenida Dendezeiros do Bonfim (no bairro do Bonfim), em Salvador.
As Obras Sociais Irmã Dulce
As Obras Sociais Irmã Dulce (OSID) nasceram no dia 26 de maio de 1959, tendo como sua fundadora a freira baiana Irmã Dulce, conhecida como o Anjo Bom da Bahia. Atualmente, a entidade filantrópica abriga um dos maiores complexos de saúde 100% SUS do País, com cerca de 3,5 milhões de procedimentos ambulatoriais realizados por ano na Bahia a usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), idosos, pessoas com deficiência e com deformidades craniofaciais, pessoas em situação de rua, usuários de substâncias psicoativas e crianças e adolescentes em situação de risco social. A organização conta com um perfil de serviços único no Brasil, distribuídos em 21 núcleos que prestam assistência à população de baixa renda nas áreas de Saúde, Assistência Social, Pesquisa Científica, Ensino em Saúde, Educação e na preservação e difusão da história de sua fundadora.
Também conhecida como Complexo Roma, a sede das Obras em Salvador abriga, em seus mais de 40 mil metros quadrados de área construída, 20 dos 21 núcleos da entidade, incluindo 954 leitos hospitalares para o atendimento de patologias clínicas e cirúrgicas. Desses núcleos, 19 apresentam atuação no campo da Saúde, a exemplo do Hospital Santo Antônio, Centro Geriátrico, Hospital da Criança, Unidade de Alta Complexidade em Oncologia, Centro de Acolhimento à Pessoa com Deficiência e Centro Especializado em Reabilitação e do Centro de Acolhimento e Tratamento de Alcoolistas. Somente no Complexo Roma são contabilizados por ano cerca de 2,2 milhões de procedimentos ambulatoriais – mais de 60% do volume alcançado por toda a organização no estado. Ainda na capital baiana, na sede das Obras Sociais, local que atende diariamente cerca de 2 mil pessoas, são realizadas por ano 12 mil cirurgias, além de 18 mil internamentos.