Legado de Irmã Dulce foi tema de debate em Salvador
Uma empreendedora nata, educadora, mãe, filha e irmã amada, anjo e santa, enfim, uma mulher amadurecida na fé que nos ensinou o idioma universal do amor, do serviço e da concórdia. Essas foram algumas das faces que permearam a trajetória de vida da Bem-Aventurada Dulce dos Pobres e que estiveram no centro das discussões da mesa-redonda 100 Anos de Irmã Dulce: Histórias e Relatos, realizada na manhã de ontem (16), no complexo de cinemas UCI Orient do Shopping Iguatemi. Parte integrante das homenagens pelo centenário de nascimento do Anjo Bom, o evento proporcionou ao público momentos memoráveis de contato e imersão no rico universo de ensinamentos deixados pela freira baiana. A cada vivência compartilhada pelos integrantes da mesa, o mesmo sentimento de saudade e carinho disputava espaço com a certeza de sua presença e com a convicção de que sua jornada, mesmo 22 anos após sua morte, continuará sendo um eterno chamado à prática do bem.
O agradável encontro de amigos de Irmã Dulce teve como convidados o professor Antônio Saja, mediador do debate, a escritora Mabel Velloso, o arquiteto e historiador Francisco Senna, a jornalista Cleidiana Ramos e o teólogo e reitor do Santuário da religiosa, frei Vandeí Santana. Na atenta plateia, familiares, devotos e admiradores do Anjo Bom, além de religiosos, voluntários, estudantes, conselheiros e profissionais das Obras Sociais Irmã Dulce (OSID). “Esperamos que esta mesa-redonda seja o passo inicial que venha despertar no seio da nossa sociedade o interesse em mergulhar e compreender cada vez mais o papel modificador de Irmã Dulce nos contextos social, político, cultural, econômico e religioso”, ressaltou a superintendente da OSID, Maria Rita Pontes, durante a acolhida aos participantes.
Repórter especial do jornal A Tarde, a jornalista Cleidiana Ramos trouxe ao encontro um pouco da experiência de quem já acompanha a história da religiosa desde a abertura do processo de Canonização. “Quando a gente pensa que já falou tudo sobre a vida de Irmã Dulce, sempre surge uma boa história que merece ser contada. Ela me ensinou uma forma diferente de fazer jornalismo. Irmã Dulce também transcende o conceito de religião. Ela é a religiosidade, com admiradores em todas as crenças”. Para o historiador Francisco Senna, a caminhada da Mãe dos Pobres é a representação viva de sua santidade. “O grande milagre dela é a OSID. Irmã Dulce é virtude, é ação, é a nossa santa”, declarou.
“Se a caridade tivesse tamanho e forma e fala e vestes, eu tenho certeza, seria assim, como Irmã Dulce, em cada gesto”. Com essas palavras, a escritora Mabel Velloso brindou o público com histórias deliciosas sobre a Bem-Aventurada, relembrando os tempos em que estudava no antigo Colégio Santa Bernadete, onde a freira trabalhava como professora. “Irmã Dulce acreditava na vida e passou sua existência transformando água em vinho, levando alegria para as pessoas”. Mediador do encontro, o professor Antônio Saja conclamou todos a ver, nos passos de amor do Anjo, uma oportunidade e um chamado de reavaliação do propósito de vida de cada um. “Irmã Dulce é mais que uma personalidade. Para mim, ela é uma causa. E mais, ela deixou-se viver pela novidade do Evangelho, uma mulher que soube amar e se deixou amar”.
Em um relato singular sobre a jornada da Mãe dos Pobres, frei Vandeí Santana, reitor do Santuário da Bem-Aventurada, relacionou a vida e a missão da freira baiana com passagens do Antigo e do Novo Testamento. “Ela foi uma mulher que assumiu a missão de libertar o seu povo. A grande veneração que podemos fazer por Irmã Dulce, é fazendo o que ela sempre fez: ver o Cristo no irmão que está precisando”. Entusiasmado com o debate, o assessor de Memória e Cultura das Obras, Osvaldo Gouveia, comemorou o resultado do evento: “Provocamos um outro patamar de reflexão sobre Dulce dos Pobres, com o olhar de cada um dos integrantes da mesa e o público. A beata foi uma mulher à frente do seu tempo, com várias facetas: religiosa, empreendedora, mística, de ação social e mãe dos desassistidos, entre outros papéis”.
Ao final do encontro, uma mesma sensação pairava sobre o público: a mesa-redonda 100 Anos de Irmã Dulce: Histórias e Relatos foi um marco ao ir além do debate e da reflexão sobre a jornada de quem entregou a vida em favor dos mais necessitados. Foi um marco por permitir, mesmo após o desligar dos microfones e das luzes, que o debate continuasse mais vivo do que nunca, só que dessa vez no coração de quem foi ao shopping não para sentir saudades, mas para um encontro marcado com Dulce.