De irmãos para irmãos
A Bem-Aventurada Dulce dos Pobres costumava dizer que “miséria é falta de amor” entre as pessoas. Certamente, ficou feliz em ver suas Obras Sociais proporcionar, na histórica manhã do último domingo (18), momentos de pura concórdia, resultado da programação dedicada ao Dia Mundial dos Pobres – evento instituído pelo Papa Francisco, em 2017, para clamar à sociedade que não seja indiferente ao sofrimento dos excluídos. Organizada na capital baiana pela Arquidiocese de Salvador, a agenda fraternal, que encerrou a Jornada Mundial dos Pobres, foi realizada com o apoio da OSID, instituição que traz em sua raiz o amor e o serviço ao pobre, ao doente, ao mais necessitado.
E assim como Irmã Dulce, que estava sempre na companhia dos mais humildes, religiosos, voluntários e fiéis de várias comunidades foram à casa do Anjo Bom para oferecer sua presença fraterna àqueles que vivem em situação de vulnerabilidade social, muitos deles moradores de rua. No Largo de Roma, solidariedade e cooperação foram valores compartilhados por todos. Na Praça Irmã Dulce, havia crianças brincando na oficina de pintura, além de grupos de dança, música e capoeira, dando o tom alegre daquela manhã. No espaço, havia ainda um grupo de médicos voluntários acolhendo o público com orientações no campo da saúde. Para a médica Thais Saldanha, 26, que integra a Obra Lumen de Evangelização, o serviço prestado foi “uma forma de devolver a Deus o dom que ele nos concedeu”.
Foi com este sentimento que o cabeleireiro Márcio Veloso, 38, aceitou o convite de um amigo para se juntar ao time de profissionais presentes na barbearia montada no estacionamento do Santuário de Irmã Dulce para atender voluntariamente na jornada: “Quis retribuir a Deus o talento que ele me deu”, disse. Um de seus clientes foi Josué dos Reis, 49, há duas semanas acolhido na Comunidade da Trindade, em Água de Meninos. Ele participou de todas as atividades, inclusive da missa, às 11h, presidida pelo arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger, no Santuário da Bem-Aventurada. A cerimônia religiosa reuniu voluntários e o público em situação de vulnerabilidade em um clima de profunda reflexão e oração, onde todos, como verdadeira família que são, foram convidados a combater a exclusão, o preconceito, a desigualdade e tudo mais que contradiga o sentido do amor ao próximo.
Depois da missa, centenas de pessoas atendidas na jornada se reuniram para um dos momentos mais significativos do evento, quando mais de 400 quentinhas com frango, arroz, feijão e legumes foram distribuídas aos presentes pelos voluntários, entre eles o arcebispo Dom Murilo e a superintendente das Obras Sociais Irmã Dulce, Maria Rita Pontes, lembrando o gesto repetido pela Mãe dos Pobres durante mais de seis décadas. No mesmo dia, no Vaticano, o Papa Francisco almoçou com 1,5 mil pessoas, reafirmando a importância de ações como estas, pois, considera que “o grito dos pobres se torna mais forte diariamente, porém a cada dia é menos ouvido”.
Para Maria Rita, domingo foi o dia de relembrar a todos nós que aquelas pessoas “não são invisíveis”: “Quando a Arquidiocese sugeriu a ação, nós abraçamos a ideia. É um gesto simbólico, para que a sociedade passe a enxergar essas pessoas”. Segundo Dom Murilo, as ações partilhadas ali “deveriam ser parte da vida de todos: uma alimentação na hora certa, um lugar para morar, o acesso à educação e à saúde. Nosso ato precisa despertar uma pergunta nas pessoas: 'e o amanhã?'”. Pare ele, o que precisamos é de “sensibilidade” para ajudar os que precisam. Assim, a Jornada Mundial dos Pobres cumpre sua missão, como disse Francisco ao criá-la, de ser “uma gota de água no deserto da pobreza”.