Humanização orienta atendimento de pacientes psiquiátricos
23 de May de 2007
A busca incessante pela humanização é marca registrada das Obras Sociais Irmã Dulce (OSID), maior complexo de atendimento em saúde 100% SUS do país – conforme o Ministério da Saúde – e referência também em educação e assistência social. Na atenção aos portadores de transtornos psiquiátricos e deficiências mentais, essa característica ganha contornos ainda mais nítidos, baseados no oferecimento de maiores níveis de autonomia aos beneficiários. É onde a missão Amar e Servir, instituída por sua fundadora como o leme que direciona as ações da organização, pode ser vista em aplicação em uma de suas mais belas formas.
Na residência do Centro de Recuperação e Prevenção às Deficiências (CRPD), da OSID, moram 122 deficientes e portadores de transtorno mental. Acompanhados 24 horas por 87 cuidadores, 13 auxiliares, enfermeira, nutricionista e psicóloga, os moradores contam ainda com o atendimento ambulatorial de pedagogos, dentistas, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e psicólogos.
Nessa grande casa, os moradores estão divididos em dez grupos de 12 a 13. São como pequenas comunidades heterogêneas e independentes, cada uma com seu espaço diferenciado e preservando suas próprias referências de lar, mas em constante integração e troca de experiências. A manutenção da cultura humanizada se reflete também na relação entre os moradores e os profissionais, que muitas vezes, geram laços afetivos de ganho indescritível. Há, por exemplo, cuidadores que levam os moradores para passar o Natal ou o aniversário de seus filhos em casa. Fardas, crachás e carimbos são quase sempre dispensáveis.
Como forma de dissociar física e simbolicamente lar de tratamento, as terapias, o atendimento ambulatorial, as oficinas (capoeira, horta, arte, natação), a Informática da Educação Especial (Programa Infoesp) e as atividades de lazer são desenvolvidos em espaços à parte, fora da residência. Muitos membros da comunidade do CRPD também vão diariamente à escola da rede regular de ensino e/ ou participam de oficinas ministradas em entidades parceiras, como a Fundação Cidade Mãe e a Apae.
Desde 2002, a OSID vem trabalhando num esforço constante de desinstitucionalização de moradores com deficiência ou transtorno mental. O processo é lento e árduo: alguns estão na casa há mais de 30 anos e perderam completamente a referência familiar. Mesmo assim, há vitórias colecionadas: 15 pessoas foram reintegradas às suas famílias desde então.
Residências Terapêuticas – Em convênio com a prefeitura de Salvador, as Obras Sociais Irmã Dulce administram, desde 2006, seis residências terapêuticas espalhadas por bairros da cidade. Elas abrigam ex-pacientes de hospitais psiquiátricos que fecharam as portas em decorrência da reforma antimanicomial. Com projeto terapêutico individual e suporte dos CAPS (Centros de Atenção Psicossocial), essas residências têm devolvido aos moradores a chance de exercitar sua autonomia. Além de serem responsáveis por seus espaços na casa, eles podem interagir com a comunidade local, comprando o leite e o pão no mercadinho, conversando com o vizinho, ou até aprendendo a pegar o ônibus sozinhos. Lição de amor e de respeito.