Saudades de D. Dulcinha
24 de November de 2006
D. Dulcinha, a grande companheira de Irmã Dulce, faleceu no último dia 18 de novembro, aos 91 anos. Desde o dia 30 de outubro a irmã querida do Anjo Bom estava internada na UTI do Hospital Aliança, em Salvador. A morte foi provocada por complicações advindas de uma mielodisplasia, enfermidade que reduz a produção de glóbulos e plaquetas sanguíneas, provocando baixa na imunidade.
O velório ocorreu na Igreja da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, futuro santuário que abrigará o túmulo de Irmã Dulce, ao lado das Obras Sociais criadas pela freira, no bairro de Roma, capital baiana. Um carro do Corpo de Bombeiros conduziu o esquife até o Cemitério do Campo Santo, onde ocorreu o sepultamento, acompanhado por centenas de amigos, admiradores e pacientes das Obras Sociais Irmã Dulce, entidade da qual era presidente de honra do Conselho Administrativo.
Dulce Maria de Souza Brito Lopes Pontes, nascida em 09 de novembro de 1915, em Salvador, foi a terceira entre os seis filhos do casal Dulce Maria (recebeu o mesmo nome da mãe) e Augusto Lopes Pontes. Perdeu a mãe quando tinha apenas seis anos, e, logo depois, a irmã Regina, recém-nascida, que não resistiu à falta do leite materno. Dulcinha cresceu na companhia dos quatro irmãos – Augusto, Maria Rita (Irmã Dulce), Aloysio e Geraldo – e além do pai, contou com o amor e os cuidados das tias Madaleninha, Georgina e Mariazinha, de quem as crianças receberam sólida formação cristã.
No início da década de 50 do século passado, se casou com um primo que tinha o mesmo nome de seu pai: Augusto Lopes Pontes. Com ele, foi morar no Rio de Janeiro, onde teve uma única filha, a quem deu o nome de Maria Rita, homenagem à irmã ordenada pela Congregação da Imaculada Conceição da Mãe de Deus. Ficou viúva em 1976, mesmo ano em que perdeu o pai. Atualmente ocupava o cargo de presidente de honra do Conselho de Administração das Obras Sociais Irmã Dulce, fundadas por sua irmã a partir de um galinheiro, em 1949. Em 12 de março de 1996, Dona Dulcinha recebeu da Câmara Municipal de Salvador a comenda Maria Quitéria, pelo exemplo de dedicação e empenho na continuidade do legado de Irmã Dulce.
"Somos dois corpos em uma alma só", dizia Irmã Dulce, em referência ao amor que sentiam uma pela outra desde crianças. Além de cúmplice no campo afetivo, a pequenina e enérgica Dulce Maria foi o braço direito da freira nas ações ligadas à caridade e à assistência social. Um ano e cinco meses mais nova que a religiosa, Dulcinha a acompanhava desde a época em que Irmã Dulce passou a sair às ruas em busca de donativos para os necessitados. Foi ela quem se arriscou a ser a portadora de um cheque doado pelo presidente Eurico Gaspar Dutra, para a construção do Círculo Operário da Bahia (Cine Roma), em 1948.
Dulce e Irmã Dulce. Nomes em comum, parecidas em coração, diferentes em temperamento. Ao contrário da tímida e recatada religiosa, Dona Dulcinha ficou conhecida por ser “espevitada” e brincalhona. Mas assim como a freira, em função da OSID, muitas vezes ultrapassou os limites da idade e da saúde, desobedecendo a ordens médicas e correndo os riscos de quem não media esforços para estar sempre presente e atuante.
Quando o Anjo Bom adoeceu, Dona Dulcinha foi chamada para substituí-la. Com a morte de Irmã Dulce em 13 de março de 1992, ao lado da filha Maria Rita (superintendente da OSID), Dulcinha assumiu a responsabilidade de dar prosseguimento ao legado da freira, coisa que a mantinha ocupada e feliz. De uma das inúmeras correspondências trocadas entre as duas irmãs separadas pela distância entre Salvador e Rio de Janeiro, uma frase de Irmã Dulce soa como alento: "Só mesmo os meus pobres me fazem viver longe de você, mas um dia estaremos juntas para sempre".