Crianças vítimas de abuso sexual têm maior risco de contrair HIV
17 de October de 2005
Pesquisa feita pelo Programa de Atenção às Crianças e Adolescentes Vítimas de Maus Tratos das Obras Sociais Irmã Dulce (OSID) aponta que crianças vítimas de violência e abuso sexual têm 25% de chance de contrair o vírus da Aids. O índice de transmissão torna-se maior nesses casos pela própria natureza do abuso em menores, que costuma ser contínuo e dificilmente é denunciado. A coordenadora do programa e da residência em Pediatria da OSID, Dra. Célia Silvany, lembra que os índices de contaminação pelo vírus em casos de violência sexual em adultos chegam a 1,8%, tanto em aferições de estudos nacionais, quanto internacionais.
Nesses casos, explica a médica, que é também diretora de Promoção Social da Criança e do Adolescente da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a própria freqüência com que ocorrem os casos explica o aumento do índice de transmissão de Aids e DSTs. “É muito improvável que um adulto seja vítima freqüente de abuso sexual”, pondera a pediatra. “Na criança, o abuso sexual é repetitivo e crônico. E ela sofre não apenas a violência sexual, mas a pressão psicológica e, em muitos casos, a violência física”, completa Célia Silvany.
Nos últimos dois anos, foram registrados quatro casos de crianças que contraíram o vírus do HIV em decorrência da violência sexual - dois desses casos ocorreram com meninos. E os números do programa realizado no Hospital da Criança da OSID revelam também um aumento dos casos de abuso sexual no universo de registros de maus tratos contra a criança. “Nesses últimos dois anos, os casos de abuso sexual representaram 12% do total de registros de maus tratos, enquanto que em levantamentos anteriores esses índices giraram em torno de 7% a 9%”, disse a médica. O programa atendeu a 138 crianças e adolescentes nesse período.
A pediatra diz que mudanças de comportamento na criança, as queixas da família ou do próprio menor devem ser os primeiros sinais de alerta para investigar a ocorrência de maus tratos ou violência sexual. Após esse primeiro momento, é importante verificar se a criança apresenta algum tipo de doença sexualmente transmissível. “O mais freqüente é a gonorréia. Mas há também casos de sífilis e Aids”, aponta. Ela destaca que, na maioria dos casos, os autores das agressões em meninos e meninas são conhecidos das vítimas. “Pode ser um pai, um tio, até mesmo um adolescente mais velho”, elenca Célia.
Ações – Quando se descobre que a criança foi violentada sexualmente, a primeira via de ação é a internação do menor para a investigação médica. Esse procedimento, salienta Célia Silvany, é importante para que se identifiquem DSTs e, nos casos de meninas que já menstruam, uma possível gravidez.
Tomadas essas primeiras providências, há a permanência do acompanhamento médico, e também de psicólogos, assistentes sociais e terapeutas ocupacionais. “Esse tipo de acompanhamento é fundamental porque a criança muitas vezes desenvolve um sentimento de culpa. Se uma menina é estuprada pelo pai, por exemplo, ela pode se sentir culpada por ter traído a mãe”, explica a pediatra.
No HC outros programas como o de Terapia do Riso e a Escola no Hospital auxiliam as crianças vítimas de abuso na recuperação emocional. As famílias também são acompanhadas por assistentes sociais e psicólogos no programa de Atenção a Crianças e Adolescentes Vítimas de Maus Tratos. “A família precisa ser tratada também nesses casos”, ressalta Célia. A médica salienta ainda que as altas só ocorrem quando é apontado o autor do crime de abuso sexual. “Nesse sentido temos pleno apoio da Delegacia Especializada de Repressão a Crimes contra a Criança e o Adolescente e do Juizado de Menores. Não podemos permitir que uma alta médica resulte no retorno da criança a um ambiente onde ela será novamente vitimizada”.
Combate aos Maus Tratos – O Programa de Atenção às Crianças e Adolescentes Vítimas de Maus Tratos foi implantado no HC da OSID em 1998, com o treinamento dos profissionais para a identificação dos casos. Em 2001, o programa recebeu o apoio da Prefeitura de Treviglio (Itália) que, em 2003, renovou o convênio por mais dez anos. As ações são desenvolvidas em várias etapas para garantir o acompanhamento, tratamento e recuperação das vítimas. O Ministério Público e o Juizado da Infância e Juventude oferecem apoio jurídico para facilitar as ações legais em casos de perda do pátrio-poder e adoção.
Contato: Dra. Célia Silvany (coordenadora da Residência em Pediatria e do Programa de Atenção a Vítimas de Maus Tratos da OSID): 9137-8350