Gestão profissional mantém viva missão de Irmã Dulce
15 de June de 2005
Amor e profissionalismo. A conjunção da caridade sem limites com a busca da excelência na gestão e na prestação de serviços faz das Obras Sociais Irmã Dulce uma instituição filantrópica com perfil único no país. Nos últimos 10 anos, a entidade fundada na década de 40 do século passado pela ‘Mãe dos Pobres’, consolidou a filosofia da qualidade e do rigor na administração dos recursos e hoje é reconhecida também como modelo de transparência e gestão responsável.
Em 2004, a maior instituição filantrópica do país a prestar atendimento inteiramente gratuito à população, segundo o Ministério da Saúde, conseguiu ver na prática o resultado de uma década de esforço de profissionalização e fechou seu balanço sem o déficit histórico, com um superávit de R$ 571.00,000. O equilíbrio de caixa fez com que a OSID apresentasse uma performance bem superior à de 2003, quando encerrou o ano com um déficit de R$ 1.575,000,00.
Segundo a superintendente Maria Rita Pontes, o resultado se deveu a um modelo próprio de administração, praticado de maneira intuitiva por Irmã Dulce e aprimorado nos últimos anos, que alia a defesa intransigente da missão das Obras de atender a todos os que necessitam de amparo a uma busca contínua da melhoria de processos e serviços e da qualificação das parcerias, que têm sempre como foco a visão de futuro.
Este modo particular de encarar a gestão vem permitindo que a instituição, que atua nas áreas de Saúde, Educação, Assistência Social, Pesquisa e Ensino Médico, melhore a cada ano seus números. A OSID fechou o balanço de 2004 computando 2.102.446 atendimentos: internações nos 1.021 leitos, cirurgias (12.348), exames laboratoriais (763 mil) e consultas ambulatoriais (820 mil), entre outros procedimentos. Toda essa gama de serviços foi oferecida em benefício de 693.040 pessoas carentes, usuários do SUS, idosos, portadores de deficiências e de deformidades crânio-faciais, pacientes sociais e crianças e adolescentes em situação de risco social.
Em 2004, a instituição fechou o balanço com uma receita de R$ 49,666 milhões e uma despesa total, incluindo capital imobilizado e depreciação de patrimônio, da ordem de R$ 49,382 milhões.
Em agosto, a OSID assinou com os Ministérios da Saúde e da Educação e a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia um contrato de metas, fruto do Programa de Reestruturação dos Hospitais de Ensino do governo federal, que modificou a forma de financiamento pelo SUS. A instituição passou a receber cota fixa por mês, condicionados ao cumprimento de metas em áreas como atendimento, qualidade e humanização. Em virtude dessa parceria, os recursos do SUS se mantêm como os mais significativos para a manutenção das atividades. Em 2004, representaram 74,09% da receita total. A instituição procura complementar recursos com doações (6,59%), convênios com organismos estatais (11,31%), venda de produtos da marca de pães e panetone Dulce Natura (6,98%) e outras receitas (1,04%).
Pregão eletrônico - Nos últimos anos, a OSID aprimorou os processos, as ações para o controle de gastos, a prestação de contas e o relacionamento com parceiros. Esse equilíbrio deu à instituição tranqüilidade para iniciar seu planejamento estratégico, apontando metas a cumprir entre 2006 e 2010.
“A única maneira que uma instituição filantrópica tem para se manter é gerir os recursos de forma profissional, não mais de forma amadora, sem prestar contas e sem apresentar retornos para a sociedade”, pontua Maria Rita. Ela considera que as mesmas dificuldades enfrentadas para a manutenção de uma empresa comum também se observam quando o objetivo é manter uma instituição cujo lucro é social. “Quanto à necessidade de profissionalismo, nós estamos no mesmo barco”, enxerga.
Para gerir um complexo com 13 núcleos de atendimento de Saúde e Assistência Social, outro voltado para a educação fundamental e profissionalizante de mais de 620 jovens, com 1780 funcionários e 400 médicos, não basta o desejo de fazer o bem. Na instituição não se separam as metas de humanização e de excelência técnica.
Contrariando o senso-comum – até mesmo práticas comuns – que associa ao improviso a gestão de instituições fundadas em benefício do carente, as ações da OSID se pautam não apenas pela busca da qualidade, mas pelo pioneirismo nos campos técnicos e administrativos. Um exemplo foi a implantação há cinco anos do Programa da Qualidade, que levou a instituição a ser certificada em 2002 com o ISO 9001:2000, e a adoção, em setembro de 2004, do sistema de pregão eletrônico para a compra de equipamentos, materiais hospitalares e alimentos realizadas com recursos provenientes do governo federal, segundo normas da lei de licitações, nº 8696/93. Uma comissão permanente de licitação cuida do processo que permite a aquisição de equipamentos sempre pelo menor preço do mercado, garantindo também lisura nas operações de compra.
A transparência é outra preocupação estratégica da instituição, que é auditada pela Ernst & Young, edita Balanços Sociais anualmente e, em 2004, conquistou pela terceira vez o Prêmio Bem Eficiente da Kanitz & Associados.
“Nossa intenção é, a cada dia, melhorar a gestão para atender o público que foi o alvo da ação de Irmã Dulce. Todos os nossos projetos e ações visam atender quem realmente necessita”, diz. Não sendo assim, ela aponta que a Obra correria o risco de desvirtuar sua missão. “Viraríamos uma empresa comum ou um hospital que tem outro objetivo”.
As ações junto ao público interno, um dos pilares da permanência da missão, também foram incrementadas nos últimos anos com programas como o de Recrutamento Interno, o Cresça e Apareça, através do qual funcionários são incentivados a concluir os ensinos fundamental e médio, e uma ouvidoria interna, o Disque Irmã Dulce (DID).
“Uma ONG precisa ter uma equipe capacitada, que busque permanentemente a reciclagem e o crescimento. Muito gente fala isso, mas a instituição nada mais é que as pessoas que a compõem”, ressalta Maria Rita Pontes. Ela aponta que o investimento no profissional é a única maneira de atrair para o terceiro setor funcionários que se destacam no mercado geral.
Quadro atual – A atual conjuntura desenha uma crise das ONGs, filantrópicas e outras instituições que não visam lucro ocasionada principalmente pela falta de gestão profissional. O país registrou na década de 90, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a criação de 139 mil ONGs, mais que o dobro da década anterior. Mas nesse “mar de Ongs”, poucos foram os exemplos de instituições que conseguiram se manter saudáveis ou mesmo cumprir as funções a que se dispuseram. A falta de profissionalismo e a gestão baseada apenas no ‘amor à camisa’ foram afastando os grandes investimentos do terceiro setor. Hoje se exige das Ongs e demais organizações do terceiro setor o mesmo rigor na apresentação de metas, planejamento e racionalidade nos gastos que se cobra de órgãos de governo e empresas que visam lucro.
Atualmente cerca de 275 mil Ongs brasileiras batalham por maiores fatias dos R$ 12 bilhões que são movimentados anualmente pelo setor no país. Uma divisão matemática simples indicaria que são R$ 43 mil para cada entidade. Claro que a divisão não é essa, e o profissionalismo na gestão das instituições definirá quem terá e quem não terá recursos para desenvolver seus projetos e ações.