Os médicos do Hospital da Criança das Obras Sociais Irmã Dulce fizeram muito mais que uma celebração no Dia do Pediatra, comemorado em 27 de julho. O dia foi também de doação e, por que não, de retorno aos primórdios da ação missionária do Anjo Bom, Irmã Dulce, assim chamada após os anos de peregrinação por Alagados, o bairro de palafitas localizado na Cidade Baixa de Salvador. Desde o começo da manhã até a tarde, foram 393 atendimentos a crianças realizados no salão paroquial da Igreja de Nossa Senhora de Alagados.
A quase totalidade das crianças examinadas apresentava enfermidades relacionadas à falta de condições dignas de moradia e saneamento básico, como dermatites, verminoses e desnutrição. Nessas circunstâncias, a ida dos médicos às comunidades carentes é providencial. Para a preceptora da Residência em Pediatria da OSID, Círia Santana, o grande problema das pessoas é o deslocamento até os centros de saúde. “Muitos têm dificuldade inclusive para conseguir o dinheiro do transporte”, comenta a pediatra.
Este foi o quarto ano que os médicos do Hospital da Criança da OSID realizaram a ação na Igreja de Alagados. Todos os pacientes foram cadastrados e continuarão com a assistência da OSID, agora nos ambulatórios e no hospital. Além dos pediatras, residentes e internos do HC estiveram presentes alunos da Escola Bahiana de Medicina.
A data comemorativa ao Dia do Pediatra foi instituída em 2000 e vem sendo utilizada pelos profissionais da especialidade para destacar a responsabilidade social da categoria. O trabalho realizado pela equipe das Obras Sociais Irmã Dulce foi destacado pela Sociedade Brasileira de Pediatria nos anos anteriores. "Não haveria outra forma de comemorar a data senão prestando serviço a crianças carentes, diante da realidade social da nossa população", justificou Célia Silvany, coordenadora da Residência em Pediatria das Obras e da ação em Alagados.
Campanha pela amamentação
A coordenadora da residência pediátrica da OSID, Célia Silvany, aproveitou a realização da ação voluntária em Alagados para antecipar a divulgação de uma nova campanha da Sociedade Brasileira de Pediatria. Com o slogan “Licença maternidade: quatro meses é pouco”, a Sociedade quer que o Congresso Nacional aprove uma licença de seis meses.
Célia Silvany justifica que a maioria dos casos de desnutrição diagnosticados têm sua origem relacionada ao desmame precoce. Segundo ela, o ideal seria que o bebê fosse amamentado até os seis meses. "Percebemos que muitas mães deixam de dar o leite materno ao bebê muito cedo e isso termina contribuindo para a doença", ressaltou.
A pediatra explica que a criança amamentada até os seis meses, além de diminuir os riscos de desnutrição, sofre menos com doenças contagiosas na infância, já que tem fortalecido o sistema imunológico. Célia aponta ainda que a mortalidade infantil diminuiria em 50% e problemas afetivos entre mãe e filho seriam minimizados.
Muitas mães, observa Célia Silvany, apresentam a necessidade de trabalhar como motivo para deixar de amamentar os filhos. “Então seria uma boa ação do governo federal, dos deputados, que tanto querem combater a fome, a desnutrição e a mortalidade infantil, que aprovassem essa mudança na lei”, comentou a pediatra.
Para a médica da OSID Inaiá Nascimento, 26 anos, grávida de oito meses do segundo filho, amamentar é dar vida. Ela conta que o primeiro filho mamou até os nove meses. "Eu me virava, trabalhava e amamentava. Não consegui tirar o peito dele. Com esse daqui que está chegando vai ser a mesma coisa. Não sei como vou fazer depois que a licença maternidade acabar, mas prometo me virar. Com certeza é por uma boa causa", garante a pediatra, que também esteve presente na ação na Igreja de Alagados. O trabalho de conscientização quanto à importância da amamentação até o sexto mês era feito junto às mães no momento do atendimento às crianças.
O direito à licença maternidade é assegurado na Lei nº 8.213/91. A mulher mantém a estabilidade no emprego, que se inicia quando ela informa à empresa sobre seu estado e termina após a licença maternidade de 120 dias. Em caso de parto antecipado, a mulher também tem direito a licença de 120 dias. Apesar de não ser o costume nas empresas, a mulher deve parar de trabalhar quatro semanas (28 dias) antes do parto e retornar somente após 12 semanas.