A Bahia sai na frente e inicia os testes com vacina contra HPV
06 de February de 2004
As Obras Sociais Irmã Dulce são o primeiro centro de saúde do país a utilizar a vacina contra os tipos de HPV ou Papilomavírus Humano responsáveis por 75% dos casos de câncer de colo uterino. A OSID é a única instituição do Norte e Nordeste a participar da pesquisa que envolve catorze centros brasileiros de referência, entre eles o Hospital Albert Einstein, o Instituto Brasileiro de Controle do Câncer e o Centro de Pesquisas Materno-infantis de Campinas. O Brasil foi incluído na fase final do estudo ao lado dos Estados Unidos, Inglaterra, Suécia, Noruega, Finlândia, Dinamarca, Islândia, México, Peru, Argentina e Colômbia, com um total de mais de cinco mil mulheres envolvidas na vacinação.
A expectativa é de que a pesquisa esteja concluída em quatro anos para início da fase de licenciamento para comercialização. Após a aprovação pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa e sua representação local, as Obras Sociais Irmã Dulce, através da Clínica da Mulher Dona Dulcinha e do Núcleo de Apoio à Pesquisa(NAP), iniciaram o recrutamento de 150 mulheres que receberam todas as informações sobre os procedimentos empregados e concordaram em participar da pesquisa. Todas têm entre 16 e 23 anos, são saudáveis e sem histórico de verrugas genitais ou alteração do preventivo, pré-requisitos para fazer parte do projeto. As pacientes receberam a primeira dose da vacina em novembro passado, etapa que está sendo realizada esse mês por mais dois centros de saúde do país incluídos no projeto.
Considerada muito segura por utilizar em sua composição uma cópia sintética do invólucro do vírus, a vacina é ministrada em três doses e as pacientes são acompanhadas com a realização de exames. Existem mais de 110 tipos de HPV ou Papilomavírus Humano, sendo que alguns podem causar papilomas (ou verrugas) e também lesões no colo do útero que em alguns casos evoluem até o câncer. A vacina polivalente em teste combate os tipos 6 e 11 que causam verrugas genitais em homens e mulheres, e os tipos 16 e 18, mais agressivos, que são responsáveis por 75% dos casos de câncer de colo do útero.
O HPV é a mais comum das Doenças Sexualmente Transmissíveis porque afeta a população de baixo risco para outras DST's, é muito contagioso e pode ser transmitido mesmo quando não é visível ou após tratamento. Nos Estados Unidos são identificados mais de um milhão de casos novos por ano, atingindo 50% das mulheres jovens, sendo que metade desse percentual é contaminada pelos tipos de alto risco para câncer de colo. A proteção de preservativos é limitada porque o vírus pode estar presente em qualquer parte da genitália e pode ficar latente por anos antes de causar verrugas ou displasia cervical (Lesão Intra-epitelial).
No Brasil foram estimados 17.600 casos em 2002 com 4 mil mortes, sendo que desse total 3.800 casos e 900 óbitos para a região Nordeste, com 900 registros na Bahia. Recomendado para que seja feito anualmente o Papanicolau ou preventivo é o método empregado para detectar o HPV, com 90% de sensibilidade. O exame foi capaz de reduzir em 50% a incidência de câncer de colo nos EUA e Europa, mas em países em desenvolvimento a cobertura através do preventivo é reduzida ou inexistente.
A OSID se credenciou para integrar o projeto pela qualidade da assistência médica prestada na Clínica da Mulher que atende diariamente 350 mulheres e realiza 300 procedimentos e pelo estímulo à pesquisa científica das patologias mais frequentes na população de baixa renda assistida pela instituição. Implantado desde 1998, o NAP conta com uma equipe de oito profissionais entre médicos, bio-estatísticos, assistentes sociais e técnicos em laboratório envolvidos em. realizados após o cumprimento por parte da instituição de todas etapas exigidas no protocolo da pesquisa.
"Nosso interesse é pela relevância da doença que tem um efeito devastador na população, principalmente na camada social mais desassistida e uma vacina terá resultados excelentes no controle desse grave problema de saúde pública", justificou o coordenador do NAP, o infectologista Edson Moreira.